A primeira volta ao mundo por Piccard com o Breitling Orbiter 3 em Março de 1999; os balões espaciais da NASA; o Zeppelin apresentado em 1900; o esplendor das actuais corridas de balões multicoloridos... São vários os exemplos que um aeróstato tão comum tornou tão magníficos!
Arquimedes descobre já em 240 a. C. o princípio do corpo flutuante; porém apenas 2000 anos mais tarde foram esses princípios aplicados à aerostática. Francisco de Lana (1631-1687), jesuíta, foi o primeiro a publicar estudos sobre o assunto. Apresenta em 1670, na sua obra Prodromo dell'Arte Maestra, um pequeno barco à vela, preso a quatro grandes esferas ocas, das quais se retiraria todo o ar, ficando tão leves e pouco densas que se elevariam no espaço[1]. Infelizmente, a falta de recursos económicos não lhe possibilitou a construção de tão fantasista barcaça voadora.
A
glória de conseguir elevar um aeróstato nos ares pela primeira vez pertence
ao português Bartolomeu Lourenço de Gusmão, célebre pela sua "Passarola".
Nasceu em 1685 no Brasil, então parte integrante da coroa portuguesa.
Mostrou desde cedo no seminário jesuíta da Baía aptidão e clarividente
inteligência para a aplicação real da Física. Consta que a inspiração
para a concepção de um balão apareceu ao observar a elevação de uma bola
de sabão, quando sujeita a um foco calorífico. Começa então a trabalhar
afincadamente no projecto de um engenho "mais-leve-que-o-ar". Entrega
a D. João V a petição de privilégio sobre o seu "instrumento de andar
pelo ar", que lhe é concedida por alvará, em 19 de Abril de 1709 (muito
por ser, por parte das cortes, um estimado intelectual das Ciências da
Natureza). Além disso, é-lhe oferecido um chorudo subsídio, e a quinta
do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, para prosseguir os seus
inventos aerostáticos. Durante as suas experiências, Gusmão pretendeu
gozar e divertir-se com a expectativa e intriga dos demais. Para tal fingiu
este inventor perder um desenho da sua máquina num local público —
a Passarola.
O desenho apresenta pormenorizadamente a constituição uma de demasiado
fantasiosa máquina voadora. (Este gracejo saiu-lhe caro, pois, com o decorrer
do tempo, apenas serviu para o desprestigiar.)
Mas é no dia 8 de Agosto de 1709, na sala dos embaixadores da Casa da Índia, diante de D. João V, da Rainha, do Núncio Apostólico, Cardeal Conti (depois papa Inocêncio 13), do Corpo Diplomático e demais membros da corte que Gusmão faz a sua apresentação inédita. Fez elevar a uns 4 metros de altura um pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo fogo contido numa tigela de barro. Com receio que pegasse fogo aos cortinados, dois criados destruíram o balão. No entanto, a experiência tinha sido coroada de êxito e impressionado vivamente a Coroa. Infelizmente, após esta experiência, e por razões inexploradas, Bartolomeu de Gusmão abandona por completo a evolução deste projecto.
O
objectivo primordial de conseguir transportar pessoas a bordo de um aeróstato,
com sucesso, deve-se aos irmãos Montgolfier (Joseph e Étienne). Estes dois franceses obtiveram a sua
inspiração através de observações comuns na sua fábrica familiar de produção
de papel. As suas experiências iniciais levaram-nos a um balão de ar
quente — um balão composto substancialmente por papel, aberto em baixo,
onde uma fogueira aqueceria o ar interior ao balão[2].
O primeiro construído tinha uns assombrosos 11 metros de diâmetro, com
uma capacidade de 800 m3. Foi lançado em Annonay, ainda sem
tripulantes, a 5 de Junho de 1783, sob o olhar atónito dos habitantes
e autoridades locais. Preso ao balão, na parte inferior, encontrava-se
uma grelha de metal, coberta de palha molhada e lã, para aquecer gradualmente
o ar interior ao balão. O voo foi um tal sucesso, que a Academia das Ciências
de Paris se pôs de imediato em campo para se informar melhor daquele espantoso
acontecimento.
Entretanto, um físico de grande mérito, Jacques Charles (1746-1823), baseando-se no balão Montgolfier, desenvolveu um balão fechado, em que o conteúdo seria de hidrogénio[3]. No entanto, a sua produção acarretava grandes riscos, e também elevadas perdas (logo, apresentava um rendimento baixo). Lançou o seu balão de hidrogénio pouco depois de Montgolfier, a 27 de Agosto de 1783. Também este balão teve muito sucesso, voando 45 minutos, caindo a uma distância de 25 km do local de partida, Paris.
Porém, as populações locais não reagiam bem à visita inesperada de tão estranhos objectos vindos do céu: atacavam, muitas vezes, os balões na sua queda, destruindo-os por completo. Sensível a esse problema, as autoridades centrais publicaram um "Aviso ao povo", informando-o dessas experiências inofensivas ao serviço da sociedade francesa. Este documento, datado de 3 de Setembro de 1783, foi largamente distribuído por França. Terminava nos seguintes termos:
«Todas as pessoas que descobrirem, no céu, uns globos de aspecto semelhante ao da lua na obscuridade, devem ficar sabendo que não se trata de nenhum fenómeno assustador, mas duma máquina feita de tafetá ou de tecido leve reforçado a papel, que não prejudica ninguém e do qual se espera que um dia venha a ter aplicações úteis à sociedade»
Não estando o rei Luís XVI ainda convencido que esses balões pudessem transportar pessoas em segurança, foi-lhe feita uma demonstração em praça pública, com três animais a bordo de uma gaiola de vime: um galo, um pato, e um carneiro. Este famoso voo de 19 de Setembro de 1783 trouxe os nossos primeiros aeronautas sãos e salvos...
Havia
finalmente chegado a vez do Homem. Mas Luís XVI atemorizou-se mais uma vez
ante a permissão de tal façanha. Só com grande esforço por parte de dois Pioneiros
voluntários — o "aventureiro científico" Pilâtre de Rozier e o marquês d'Arlandes
François-Laurent — é que Luís XVI acedeu à primeira ascensão humana, dois
dias após a dos 3 animais. Contudo, a viagem foi conturbada, por o balão ameaçar
arder por completo. Felizmente foi-lhes possível regressar a terra igualmente
sãos e salvos.
Agora, também os colaboradores de Jacques Charles propunham-se a subir num balão de hidrogénio, por este apresentar mais vantagens na facilidade de condução: não seria necessário atender constantemente ao fogo do balão Montgolfier. Assim, podiam preocupar-se com experiências científicas. Após inúmeros preparativos que incluíram a resolução de novos problemas, largaram terra a 1 de Dezembro de 1783. Um voo repleto de sucessos aumentando a confiança da população e das autoridades neste novo meio de transporte. Devido a estes vários êxitos, os voos multiplicaram-se no ano seguinte.
O próximo desafio de alto risco seria atravessar o Canal da Mancha, entre Inglaterra e França. O destemido e apaixonado pelos balões Pilâtre de Rozier já o projectava há bastante tempo. Quando se preparava para o finalmente efectuar, dois outros destemidos iniciavam-no a partir de Inglaterra, em direcção a França.
O céu limpo e a aragem suave da manhã de 7 de Janeiro de 1785 encheu François Blanchard e Daves Jefferies de coragem. Lançaram-se numa empresa que lhes custou a perda de vergonha! Ainda que a viagem se iniciasse bem, logo repararam que a força ascensional era fraca, devido a um possível erro de cálculo no lastro. Apavorados por uma queda fatal nas águas frias, começaram desde cedo a atirar borda fora o lastro, e após este, tudo o que pudesse impedir a ascensão do balão. Avistaram terra ao longe, mas ainda era demasiado cedo para alegrias... O passo seguinte foi despirem-se — notaram melhorias, mas pouco significativas. Jefferies ainda se quis atirar ao mar, mas foi impedido por Blanchard. Só uma hipótese restava: agarrarem-se às redes que seguravam a barquinha de verga ao balão, e soltar esta. Quando se preparavam para este acto de desespero, já muito perto da costa, sentiram o balão a elevar-se no ar. Atingiram terra, sãos e salvos, aclamados pela população...
Por sua vez, Pilâtre
de Rozier, destroçado por ter sido ultrapassado, atrasou muito a sua tentativa
(no sentido oposto). Quando o finalmente tentou, o balão estava em tão
más condições que não resistiu à travessia.
Após esta arrojada travessia, as ascensões multiplicaram-se em grande escala, fomentando igualmente o desenvolvimento desta nova tecnologia até aos vários tipos de aeróstatos que conhecemos hoje...