Olhas para o céu, e vês o nosso esplendoroso Senhor do Dia a ser brutalmente atacado por um impiedoso monstro negro! Atemorizado, reúnes os sábios da tribo para exorcitar o Sol com ritos tradicionais (lançamento de setas, técnicas de ruídos...), tentando afastar o maléfico monstro!
Assim se comportavam muitos
povos da Antiguidade, ao enfrentarem os eclipses solares. Os chineses atribuiam
tanta importância ao eclipse solar, que, em 2136 a.C., condenaram dois
astrónomos à morte, por estes não o terem previsto correctamente!
Actualmente, os eclipses solares e lunares são conhecidos pela sua espectacularidade.
Só ocorrem quando o Sol, a Terra e a Lua estão em linha, ou seja,
quando a Lua atravessa o plano da órbita da Terra em torno do Sol.
Como a órbita da Lua é elíptica e inclinada cerca de 5°
relativamente à terrestre, existem somente dois
pontos de intersecção da órbita lunar com o plano da
órbita terrestre - os nodos - a cada 173 dias. Infelizmente, nem sempre
a Lua está num nodo, quando este está alinhado - isto torna os
eclipses raros.
Mas terás a oportunidade de observar o último eclipse solar total deste milénio: a 11 de Agosto de 1999 irá ser visível em certos pontos da Europa Ocidental e Central. (E quais serão os próximos Eclipses).
Continuas interessado? Então lê até ao fim.
Eclipses Solares
A
conjugação ideal para que haja um eclipse solar
ocorre quando um dos nodos está entre o Sol e Terra, isto é,
durante a Lua Nova. Este sistema cria duas sombras, a penumbra (mais clara),
e o cone de sombra, ou umbria (mais escura). Conforme a
posição da Lua relativamente ao nodo, existem três
tipos de eclipses solares: parcial, anular ou total.
O eclipse parcial ocorre quando a Lua passa perto do nodo, projectando somente a penumbra na Terra; o Sol parece estar em fase crescente. No segundo caso, a Lua passa no nodo e centra-se com o Sol, estando aquela mais longe da Terra que normalmente. Logo, a umbria não atinge a Terra; o disco lunar aparece com um diâmetro menor do que o Sol, gerando um anel dourado em volta da Lua.
O eclipse solar total é o mais raro! Todo o processo pode ter uma duração superior a 3 horas, mas todo ele recheado de surpresas! A Lua começa por ocultar o Sol, demorando mais de uma hora. A um minuto do eclipse total aparecem as "contas de Bailey" - um colar de pontos brilhantes gerados pela passagem de raios solares pelos vales lunares (descrito em 1876 por Francis Bailey, astrónomo inglês); no último momento apenas um ponto muito brilhante, o "anel de diamante"! Finalmente, o tão esperado eclipse total, preparando-se a Natureza para mais uma "noite"! Os pássaros retornam aos seus ninhos, as flores fecham-se, o dia escurece misteriosamente. A Lua cobre o Sol por pouco mais de 2 minutos; este torna-se perceptível unicamente pela sua corona, um halo branco emitido da sua atmosfera! (Se não fores atingido pelo cone, observas somente um eclipse parcial.) Depois inverte-se o processo...
Pode existir ainda um quarto tipo - anular-total ou híbrido - quando a Lua e o Sol parecem ter o mesmo diâmetro. Só dura alguns segundos, mas emite um halo muito bonito. O próximo híbrido será a 8 de Abril de 2005, no Oceano Pacífico do Sul!
Cada eclipse tem um ciclo de repetição de 6585 dias, num espaço de 1200 a 1500 anos - o ciclo Saros, descoberto pelos Babilónios. O deste Verão, por exemplo, é o ciclo Saros 145!
Eclipses Lunares
O eclipse lunar é semelhante ao solar. Agora é a Terra que projecta a sua sombra sobre a Lua, quando em Lua Cheia. Além disso, estes eclipses são visíveis em qualquer lugar em que a Lua Cheia seja visível regularmente.
Também aqui existem três tipos diferentes de eclipses lunares: penumbral, parcial ou total. O primeiro ocorre quando a Lua está "longe" do nodo e atravessa apenas a zona penumbral. Porém, como os contornos da penumbra são pouco definidos, só quando a Lua vai a meio da penumbra se nota o eclipse. No segundo caso, apenas parte da Lua entra na umbria. O terceiro tipo é o mais atraente. A Lua está sobre um nodo, e imerge por completo na zona umbrosa. Ao entrar nesta, parece desaparecer; mas notarás uma sombra opaca avermelhada ou acastanhada sobre a Lua, formada pelos raios solares ao atravessarem os bordos da atmosfera terrestre.
Último Eclipse Solar Total do Milénio
O estreito cone de sombra
deste eclipse irá aparecer no Oceano Atlântico, atravessando a
Europa Central e o Médio Oriente, acabando na Baía de Bengala,
Índia. A maior magnitude e duração será na Roménia,
às 11:03:04 UT [1].
Mas a penumbra irá alastrar-se por uma área muito vasta, desde
a Árica do Norte, passando por toda a Europa. Em Portugal, teremos uma
visão de 60% a 80% do eclipse total. O instante de eclipse máximo
será por volta das 10:00 UT. (Aqui
tens horários para outras cidades mundiais - além de Lisboa e
Porto - e, também, o que poderás observar em cada uma dessas cidades.)
O reverso da medalha deste
espectáculo são a meteorologia e a segurança da vista.
Como existem sempre repentinas variações na meteorologia, a
sua previsão a longo prazo é pouco fiável. Por isso,
aconselho-te a, no dia D, estar atento às sucessivas previsões
e a mobilizar-te, quando possível.
A segurança obriga-nos a não olhar directamente para o Sol, ainda que não haja desconforto, por perigo de danos visuais permanentes. Nem sequer vidros fumados, óculos escuros e muito menos binóculos são aparelhos seguros para observar um eclipse solar. Alternativas? Pega em dois cartões brancos, faz um orifício com um prego num deles, e separa-os cerca de um metro. A luz atravessa o orifício, aparecendo uma imagem invertida no segundo cartão. Para aumentar a imagem, usa um binóculo entre os cartões. Podes olhar para a imagem invertida com segurança, mas nunca pelo orifício.
Observa o maléfico monstro, sem te eclipsares a ti próprio!